24 de set. de 2017

Você acredita em Liberdade?


                Que tal falarmos sobre Liberdade na Análise do Comportamento?


     Você certamente já deve ter pensado, "será que somos livres? Temos liberdade?" Claro que a resposta para essa pergunta exige diversas explanações sobre a temática e sobre a própria pergunta.



Então, vamos por pontos.
  

              1. O que se define por liberdade?
  •     Comumente, quando alguém está falando em liberdade, se refere a algo, uma coisa, um fato, a expressão da natureza humana, ou ainda, uma condição a priori do ser.
  •     Outros, por sua vez, podem estar se referindo a um ambiente livre de condições aversivas, onde se possa viver a plenitude, se sentir bem com todos e agir segundo o próprio desejo.
  •     Há ainda os que estejam falando de uma finalidade, da ação que existe por conta da liberdade. E alguns mais não sabem o que chamam de liberdade, apenas usam a palavra.
  • Por fim os que dizem de liberdade no sentido de "sentir-se livre".
       

             2. Mas por que alguém fala sobre liberdade?
    
  •       Primeiro é necessário compreender que liberdade não é uma coisa, não é definida a priori, não é a expressão da natureza humana, não é a plenitude, não é uma finalidade, tampouco é algo.
  •          Quando nos referimos a liberdade, estamos, quase sempre, em um dos dois pontos: ou insatisfeitos com práticas sociais/ambientais que punem nossos comportamentos, reflexões e, procuramos mudança dizendo que se o mundo fosse mais livre, seria melhor; ou, estamos "muito bem, obrigado" e consideramos que nossos comportamentos não estão sendo controlados, por isso há liberdade mas isso é apenas uma sensação.


         3. O que o Reforçamento Positivo e a Coerção tem com isso?

  •         É interessante notar que, quando estamos fazendo algo que nos agrada, principalmente em aspectos sociais, nos sentimos livres. Numa festa, certamente há maior probabilidade de alguém se dizer livre, em relação a um presidiário.
  •        É importante não considerar que prazer e reforçamento positivo sejam a mesma coisa, mas, é notável que, quando sentimos prazer em algo, nos comportamos mais em relação aquilo que nos agrada. Em outras palavras, há aumento na frequência de determinado comportamento quando há uma sensação prazerosa.
  •       No entanto, grande parte do nosso cotidiano está sob controle coercitivo. Um aluno de graduação pode deixar de estudar algo que o agrada (leia-se, Análise do Comportamento), simplesmente para estudar uma outra matéria que não seja interessante somente para não tirar nota ruim na matéria. Ou seja, seu comportamento só ocorre para evitar um situação aversiva (nota ruim). Não há nada reforçado positivamente.
  •       Murray Sidman, no seu livro, "Coerção e suas Implicações" propõe muito bem essa temática, considerando que, no âmbito social, as pessoas usam muito mais de reforçamento negativo e punição para conseguirem o que querem. Resultado?! Há muito menos "sensação de liberdade" no ambiente social, o que poderia ser conseguido se usássemos de Reforçamento Positivo, melhorando a nossa vida e a dos outros.
  •      Então, a lógica é a seguinte: reforço positivo geralmente aumenta a sensação de liberdade e o discurso de sentir-se livre, simplesmente porque deixamos de usar de punição e/ou estimulação aversiva. E aí surge uma outra questão!

       4. Então "liberdade" e "sentir-se livre" são a mesma coisa?

  •     Exatamente, jovem leitor (a). Em um ambiente livre de restrições aversivas, certamente nos sentiríamos mais livres. A questão não é só teórica. Para chegarmos em um ambiente como foi pressuposto, precisamos de muito autoconhecimento e autocontrole, o que evidencia outro aspecto relevante: controle não é somente punitivo.
  •      Quando alguém diz ser livre, dois fatores podem ser destacados: essa pessoa (leia-se, "seus comportamentos") é muito reforçada positivamente (ainda bem), e, possivelmente, talvez ela não tenha muito conhecimento sobre as variáveis que controlam os comportamentos dela. Talvez não faça questão disso. Ou ainda, conheça essa variáveis e só use a palavra "liberdade" no sentido que colocamos até agora (enquanto efeito de reforçamento positivo).

        5. Então, se não existe liberdade, somos todos iguais?

  •     A questão é justamente o seu oposto. Ao assumirmos que não há uma liberdade, como se suporia em teorias mentalistas/dualistas, somos o agente de nossa própria modificação, pois somos também ambiente e variáveis que podem mudar a história de outra pessoa, ou até mesmo, de toda sociedade.
  •       Como diria Skinner, no seu livro "Para além da Liberdade e da Dignidade" (pg. 170), "uma cultura não tem existência independentemente do comportamento dos indivíduos". E complementa dizendo que "a sua individualidade é incontestável" (pg. 170).
  •       É incontestável que cada uma tem sua subjetividade. Isso porque cada pessoa vive situações únicas e singulares que se relacionam com outras experiências. Ninguém nunca viverá exatamente como outro. Não importa o quão semelhante sejam as contingências, há diferenças.


O que se pretende afirmar é, então, que o termo "liberdade" não serve enquanto conceituação para explicar os comportamentos do ser humano. O uso da palavra não estabelece sua existência.
Além do mais, não é porque nossos comportamentos tem causas e geram certas consequências que, deixaremos de nos sentir livres. A posição é inversa. Ao sabermos dos nossos comportamentos e usarmos esse conhecimento para controlar, por meio de reforçamento positivo, as condições do nosso meio social, podemos garantir que o outro se sentirá bem com o que fazemos.

Uma sociedade que saiba usar o reforço positivo e o controle, não é uma utopia, é uma necessidade.

        



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