10 de mai. de 2017

O Sujeito e a Psicologia - Parte II

      O primeiro autor que podemos questionar, dentro da Psicologia, em relação ao reconhecimento de um "Sujeito" é Wilhelm Wundt. Esse autor, geralmente discutido apenas em matérias como "História da Psicologia", tem seu legado e estudos, de certa maneira, não valorizados. Com efeito, é importante destacar que foi um dos primeiros teóricos a questionar diversas atitudes, entre elas: qual o papel da metafísica na psicologia? O que podemos considerar fenômeno? Quais os equívocos de uma Psicologia somente Materialista? Deveríamos tratar a psicologia como ciência preocupada com os fenômenos ou considerá-la a parte dos processos?

Pois bem. Reconhecendo a importância de Wundt para a Psicologia, retomemos a sua noção de Sujeito.

Wundt, a princípio, contrapõe a psicologia tradicional (metafísica) com a psicologia moderna (empírica), e chega na conclusão de que a metafísica não é útil para se descrever e conhecer os fenômenos psicológicos e sociais. E por que? Ora, se ela se preocupa com fenômenos subjetivos, considerados substratos de uma substância explicativa (a mente, a matéria), não se tem métodos coerentes para se chegar ao conhecimento supersensível e imortal da mente-substância, pois a mente não aparece na experiência fenomenal, ou seja, não há como investigar o fenômeno subjetivo fora da experiência do próprio fenômeno.

 Então, Wundt considera o Sujeito existente somente na experiência, no fenômeno, não transcende o próprio ser, não é algo de outra natureza, como na Psicologia psicanalítica, por exemplo.

Não contente com essa situação, Wundt se propõe a questionar a Psicologia Empírica, pois, de início, esse campo da psicologia dividia o que era Experiência Interna da Experiência Externa, reconhecendo que a psicologia deveria se preocupar com a experiência somente interna, como ainda algumas abordagens ainda fazem.

O problema que se chega é de ordem epistemológica. A Psicologia, se vista dessa forma, dividiria o sujeito, não reconheceria que ele é fenômeno, que ele não pode ser descrito e estudado fora do próprio fenômeno. Voltaríamos ao mesmo ponto da psicologia metafísica.
Wundt então explica que não existem dois tipos de experiência, mas que a mesma experiência é vista de diferentes formas. Essa maneira de explicar as conceituações vem de uma corrente filosófica chamada Perspectivismo.  Ou seja, não é porque a Sociologia descreve as relações sociais e a Psicologia as comportamentais, que os fenômenos serão diferentes. Não. O que muda é a descrição, a explicação. O sujeito é o mesmo, as perspectivas que são parciais. Por vezes, complementares. E dizem sobre a Experiência.

Assim, o sujeito epistemológico é o sujeito objetivo, mas também o sujeito subjetivo, a depender da teoria. A psicologia se caracteriza por estudar o contexto em que está o Sujeito (ou seja, o fenômeno), preocupada com os Processos que ocorrem, como as sensações, os sentimentos, as emoções e as ideias.

Quando se diz de Processos, é bom dizermos que se refere a um Espaço delimitado por Eventos e Coisas, em certo tempo.

Então, temos a conclusão de que o Sujeito é Subjetivo e Objetivo, é Processo (no sentido descrito), e temos que mudar a linguagem, pois, conforme a Psicologia Metafísica dizia "o sujeito sente desejo", temos um enorme erro teórico. Acabamos de dizer que o Sujeito é Subjetivo, ou seja, ele não tem subjetivo, não tem um inconsciente, ele é inconsciente, ele é subjetivo.

O que teríamos como afirmação possível é que o Sujeito é desejo, é afeto, é emoção, é subjetivo e objetivo. O sujeito é essa totalidade dos processos da própria experiência. E o método para se estudar o Sujeito é a Psicologia Experimental, pois assim, conforme ABIB "com esse método podem-se produzir processos e modificá-los com interferências apropriadas" (p. 20).

A conclusão marcante é então que o Sujeito é Autorreferente. Ele se refere aos próprios processos de dentro da experiência, conhecendo os objetos e os processos, conhecendo a si mesmo. Não há algo que exista no sujeito e possibilite ele a dizer de si. Não há um superego que esteja/seja no sujeito e cause comportamentos. Essa questão é da Psicologia Metafísica, que parte de critérios anticientíficos, sobrenaturais.

Em síntese, temos, em Wundt, a crítica ao Substancialismo, ao Mentalismo, às abordagens que dizem existir diferença entre o ser subjetivo e o ser objetivo, além de ver o Sujeito como processo no fenômeno, como autorreferente, que se conhece, e pode mudar, além de dizer que a Psicologia que possibilita melhor compreensão é a Psicologia Experimental. Wundt, não é só um autor histórico, é um autor que merece maior atenção pelas mudanças que causou na Psicologia. 



(Texto escrito com base no livro "O Sujeito no Labirinto, um ensaio psicológico", do Professor José Antônio Damásio Abib, da Editora ESETec, de 2007, da página 14-21).

Usou-se também os textos:

ARAUJO, Saulo de Freitas. Uma visão panorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt. Sci. stud.,  São Paulo ,  v. 7, n. 2, p. 209-220,  June  2009 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662009000200003&lng=en&nrm=iso>. Access 09 on   May  2017;

PRADO FILHO, Kleber; MARTINS, Simone. A subjetividade como objeto da(s) psicologia(s). Psicol. Soc.,  Porto Alegre ,  v. 19, n. 3, p. 14-19,  Dec.  2007 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822007000300003&lng=en&nrm=iso>. Access on  10  May  2017. 

4 de mai. de 2017

O Sujeito e a Psicologia - Parte I




O que seria o “Sujeito” na psicologia?



Muitas abordagens psicológicas são baseadas em definições metafísicas, que transcendem a experiência. Outras ainda, se preocupam em delimitar um sujeito, ou ainda, um ente, que figuraria no substancialismo, que é uma doutrina que caracteriza a existência em substâncias. Pressupor a existência de uma mente que é substância, mas não é fenomenal, que está além do próprio organismo, é algo feito na filosofia e psicologia constantemente. A principal filosofia substancialista seria o dualismo cartesiano, ou ainda, e ainda que se negue a afirmação, a psicanálise freudiana. Geralmente, há certa relação entre o substancialismo e a metafísica, mas essa relação pode ser dispensada, como fez Leibniz, um autor substancialista, mas monista, que não dizia que a mente fosse algo diferente da matéria.

Até mesmo a psicologia materialista (não no sentido filosófico, mas sim no de investigação do fenômeno), frenologia, por exemplo, se equivoca ao tentar explicar o sujeito fora do fenômeno, relacionando a subjetividade a uma substância material, sem fundamentação.

O sujeito, conforme veremos, só existe no campo fenomenal, conforme descreve a psicologia que adota postura empírica. Em diversos autores que veremos, só pode ser visto como consequencial, verbal, consciente e, até mesmo, ético.

Seguindo a metodologia e o livro do Professor José A. Damásio Abib, denominado “O sujeito no labirinto”, serão publicados, notas, descrições e explicações de como os autores W. Wundt, W. James, G. H. Mead, e B. F. Skinner, formularam suas teorias, centralizando o aspecto do Sujeito em seus conceitos.

As publicações serão feitas seguindo a ordem descrita dos autores, sendo que haverá uma última publicação analisando e comparando as teorias descritas. Boa leitura!